Em meio à pandemia, o Anuário Eurocâmaras 2021 traz uma reflexão sobre o impacto da crise gerada pela Covid-19 na sociedade, especialmente na educação e na economia. Como nas edições anteriores, o anuário contempla diversos artigos de organizações renomadas, informações sobre as relações políticas e econômicas entre o Brasil e a União Europeia (UE) no período, além da ficha técnica de cada um dos 27 países integrantes da UE. A responsável pela publicação é a Eurocâmaras, maior rede empresarial europeia no Brasil, que desde 1999 atua com o objetivo de ser a ponte entre os mercados europeu e brasileiro.
O evento de lançamento do anuário, realizado no dia 7/5, fez parte das comemorações do Dia da Europa, celebrado oficialmente em 9/5. Conforme relembrou o embaixador da UE no Brasil, Ignacio Ybáñez, nesta data, em 1950, “o estadista francês Robert Schuman apresentou a ideia de se criar uma entidade supranacional para superar as diferenças entre os países europeus, que em menos de 50 anos foram responsáveis por duas guerras mundiais. A proposta ficou conhecida como declaração Schuman que, desde então, permitiu à Europa viver em paz, sobre os princípios da democracia e da liberdade”.
Realizado no formato online, o encontro foi dividido em duas partes. Na primeira, os discursos foram proferidos pelos membros dos órgãos responsáveis pelo anuário: além de Ignacio Ybáñez, o presidente atual da Eurocâmaras, Marcos Madureira e o presidente da Câmara de Mediação e Arbitragem das Eurocâmaras (CAE), Renato Pacheco. Na segunda, os articulistas do anuário tiveram a palavra.
O presidente da Eurocâmaras iniciou o evento falando sobre os efeitos da pandemia na vida das pessoas do mundo todo. Diante desse contexto, Madureira firmou a importância do Acordo Mercosul-UE, não só porque o Brasil precisa de investimentos, mas também, gerar empregos e aumentar sua produtividade, o que se torna mais difícil em um país de economia fechada. E completou: “Após tantos anos para termos um acordo com a UE, temos de fazer todos os esforços para a sua efetivação. Será bom para o Brasil, para a Argentina, para o Paraguai, para o Uruguai, e para todos os países da UE”.
Renato Pacheco apresentou o trabalho da CAE que, desde 2001, lida com questões de mediação empresarial e solução de conflitos. Pacheco falou sobre a pandemia, que trouxe uma série de consequências negativas para o Brasil e para o mundo inteiro, mas lembrou que ela permitiu também avanços importantes na área da tecnologia, da telecomunicação e da pesquisa, com vacinas trazidas da Europa. “Tudo isso reforça a importância de termos cada vez mais a proteção das relações jurídicas, que são o dia seguinte das negociações”, destacou.
O embaixador Ignacio Ybáñez traçou um panorama das relações comerciais e econômicas entre Brasil e UE, apresentando dados significativos, entre os quais: a UE é o segundo principal parceiro comercial do Brasil, correspondendo a 15% do comércio total e é o maior investidor estrangeiro no Brasil. De acordo com Ybáñez, esses números demonstram que o Brasil é um parceiro vital para se alcançar os objetivos da nova estratégia comercial da UE, apresentada em fevereiro deste ano, e as relações tendem a se expandir com o acordo da associação entre o Mercosul e a UE, o que será fundamental no cenário pós-covid.
O embaixador reforçou ainda que o acordo é importante para melhorar a competitividade internacional e a produtividade, além de criar oportunidades de crescimento sustentável para todos, já que os compromissos nessa área contribuem para alcançar os objetivos do Pacto Verde. Segundo ele, tanto a emergência climática e ambiental quanto a pandemia impactam negativamente o desenvolvimento normal dos negócios e a estabilidade das empresas, sendo preciso que o setor empresarial assuma um papel fundamental no momento, para transformar a crise em oportunidade, trabalhando em parceria para que os benefícios do acordo se tornem realidade. Ybáñez terminou seu discurso falando que a pandemia só será derrotada na coletividade, respeitando o isolamento, mas ajudando uns aos outros. E repetiu a principal mensagem do projeto europeu: “Somos mais fortes se agirmos juntos”.
Leonardo Rocha Bento, coautor do artigo “Brasil, União Europeia e o êxito da décima segunda conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio”, representou o embaixador Alexandre Guido Lopes Parola, da delegação brasileira junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). Bento falou sobre as expectativas para o Brasil e para outros membros comprometidos com o sistema multilateral de comércio com a UE, que terá seu momento-chave na 12ª Conferência Ministerial da OMC, que será realizada em novembro.
A Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI) é uma entidade internacional que trabalha em benefício da educação, da cultura, da ciência e da tecnologia, há 72 anos, e tem como foco a melhoria da qualidade da educação. O diretor e chefe da representação da OEI, Raphael Callou, que escreveu o artigo “Educação e produtividade no Brasil e na região ibero-americana”, ressaltou que o momento é oportuno para o debate sobre a educação, diante da pandemia que provocou a interrupção das aulas presenciais, o que certamente trará consequências nos próximos anos.
Segundo Callou, é importante pensarmos como será a formação dessa juventude diante de um cenário que é muito desafiador e dentro de um sistema educacional de enorme complexidade, diversidade e desigualdade no acesso às ferramentas e à tecnologia, como é o brasileiro. Favorecer o desenvolvimento integral dos nossos jovens, associando a formação às demandas do mundo do trabalho com foco na empregabilidade, é a função social básica dos nossos sistemas econômicos, tendo em vista a importância do emprego para a manutenção da qualidade de vida no nosso país.
A mesma preocupação fez parte da fala de Paloma Casero, diretora do Banco Mundial para o Brasil. O artigo do BM para o anuário enfatiza a crise do sistema educacional brasileiro, agravado pela pandemia, com consequências a curto e longo prazos sobre a produtividade nacional. Segundo ela, a pandemia teve um grande impacto sobre a América Latina, que responde por 30% das mortes no mundo, sendo quase 25% pertencentes ao Brasil. Outra marca é de que somos o país em que as escolas estão fechadas por mais tempo. E se no cenário brasileiro anterior à pandemia os alunos já tinham dificuldades para aprender as habilidades básicas — dados mostram que uma em cada duas crianças não consegue ler um texto básico aos 10 anos de idade —, após a Covid-19 a situação tende a piorar, com o aumento dessa dificuldade de leitura de 50,8% para 62%, de acordo com estimativas do BM.
Em outra estimativa, uma criança nascida em 2019 no Brasil conseguiria desenvolver apenas 60% de seu potencial. Estima-se, porém, que se decisões não forem tomadas agora, o Brasil só alcançará esse nível de capital humano pré-pandemia em 2040. Dessa forma, a perda educacional representará um impacto sobre o capital humano e sobre a produtividade no futuro do país. Casero enumerou áreas nas quais poderia se atuar para mitigar o problema, e disse que essa crise também é uma oportunidade para realinhar sistemas educacionais a necessidades do mercado de trabalho e de produtividade.
Fabrizio Panzini, gerente de políticas de integração internacional da CNI (Confederação Nacional da Indústria) retomou o tema sobre o acordo Mercosul-UE que, desde 2012, tem envolvido esforços para sua concretização. Panzini lembrou que apesar de acordos de livre comércio destacarem o acesso ao mercado
pela queda das tarifas de importação — no caso do Brasil, as tarifas chegam a 35% para os países europeus —, o Acordo Mercosul-UE não trata só disso, ele discute barreiras não tarifárias e a burocracia no comércio exterior, ajuda a impulsionar investimentos bilaterais, liberaliza o mercado de compras governamentais, além de promover o desenvolvimento sustentável. A sustentabilidade, aliás, foi um dos pontos que ele destacou, enumerando ações que o Brasil tem realizado nesse sentido, e ressaltou os benefícios econômicos do Acordo UE-Mercosul.
A última fala foi do economista da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Jenz Arnold. Seu artigo “Desenvolvendo o potencial econômico do Brasil: desafios para as políticas econômicas e comerciais” mostra como o Brasil se tornou uma das principais economias de mercados emergentes, mas também apontou a necessidade de se resolver muitos desafios no âmbito das políticas econômicas. Arnold ressaltou que a pandemia torna urgente as melhorias na política econômica do país para que ele consiga alcançar seu potencial, incluindo reformas que devem visar três objetivos: aumentar a produtividade (melhor regulação e abertura à economia global); fortalecer a inclusão produtiva e social para um crescimento mais inclusivo (capacitação profissional /educacional e o direcionamento das
transferências sociais). Por último, proteger com mais rigor os ativos naturais do Brasil, tornando o crescimento mais sustentável.
Para quem quiser acompanhar a discussão na íntegra, o vídeo do encontro está disponível no canal do YouTube da CamaraEspanhola.
O Anuário Eurocâmaras 2021 encontra-se disponível para download no seguinte link.