Os Mosqueteiros da Independência

Quando chegamos ao Brasil, há mais de cem anos, éramos austríacos, italianos, iugoslavos, mas as nossas almas e corações sempre foram eslovenos. Só nos últimos 30 anos, porém, fomos redimidos: temos passaportes eslovenos e somos reconhecidos como eslovenos.

Os eslovenos no Brasil, independentemente como eram chamados, sempre foram Slovenci/Slovenke com S maiúsculo. Com seu comportamento, trazendo para o Brasil os valores de trabalho, perseverança, ética e responsabilidade social — valores tradicionais eslovenos —, eles contribuíram não só com o país que os acolheu, mas também com o caminho que levou à independência da Eslovênia.

Ou seja, os brasileiros que conviveram com eslovenos no Brasil, sabiam de que país vieram.

Quando começou o processo de desintegração da Iugoslávia, a comunidade eslovena no Brasil já estava a postos. Há muitos anos, ela estava organizada no coral esloveno, nas reuniões culturais e em eventos religiosos, assim como, com uma integração maior, na área de negócios. Existia uma solidariedade não escrita entre todos, independente de opiniões e da origem política ou religiosa de cada um. Prevalecia quase um romantismo solidário.

Além das ações na própria Eslovênia, tais como: organização da Feira Industrial Brasileira, que em vez de ser no Zagreb ou em Belgrado, ocorreu em Liubliana. Participação de viticultores brasileiros na Feira de Liubliana. Artistas brasileiros participando da Bienal do Design Gráfico em Liubliana. Houve ainda estímulo a empresas eslovenas para participarem do mercado brasileiro, com o apoio dos eslovenos no Brasil. Ou seja, promover a Eslovênia como entidade econômica e cultural diferente da Iugoslávia. Nos não éramos iugoslavos, nos éramos eslovenos que vivíamos no Brasil.

Com o processo de independência eslovena crescendo, era importante que os políticos e a imprensa brasileira fossem informados do que acontecia. Naquele momento, foi fundamental que eslovenos que ocupavam posições públicas como Alexandre Kadunc, da Rádio Bandeirantes; padres eslovenos; Vladimir Ovca e Janez Hlebanja, do Rotary, e tantos outros — em especial a comunidade acadêmica e empresarial — tivessem um discurso uníssono. E assim nos demos as mãos e bradamos ao Brasil: depois de mil anos, a Eslovênia será independente e queremos o apoio do Brasil, onde já estamos há mais de cem anos.

Dessa forma, foi organizada a União do Eslovenos sob a presidência de Vladimir Ovca. Além da Câmara de Comércio Esloveno-Brasileira, presidida por Janez Hlebanja, dono de um dos brands mais conhecidos no Brasil na época, a Yanes, marca de nome esloveno. Outras pessoas tiveram participação nesse processo: o engenheiro Andrej Kranjc, além de ser um respeitado professor universitário e especialista em metalurgia de renome mundial, escreveu o primeiro dicionário português-esloveno; Frederico Hlebanja organizava o coral esloveno; Frančiška Brunček dava o toque organizacional impecável; Peter Slavec editava o jornal em esloveno e Ciril Smrkolj, voltando a Trojane, após oito anos no Brasil, se torna Ministro de Agricultura do governo democrático da Republica da Eslovênia.

O Brasil foi assim um dos primeiros países a reconhecer a independência da Eslovênia, fazendo o primeiro acordo de eliminação dos vistos entre os países independentes, após a queda de Berlin. A alta delegação da Eslovênia, chefiada por Janez Drnovšek, participou pela primeira vez como país independente de um evento da ONU (Organização das Nações Unidas), a Rio 92.

O caminho da independência da Eslovênia foi construído com cada pedra colocada por cada um. Ninguém mais, ninguém menos, cada um que lutou contra a absorção e contra a corrente — para se manter, no coração e na alma, esloveno — fez o seu dever e construiu essa Eslovênia independente. A Republica da Eslovênia.

Štefan Bogdan BARENBOIM ŠALEJ

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