Prestes a completar 85 anos de idade, em março do próximo ano, Rubens Ricupero mostrou as razões pelas quais é considerado uma autoridade em assuntos de política, economia e desenvolvimento. Sua experiência, que abarca as áreas diplomática, política e acadêmica, trouxe um grande valor para a discussão do tema “Brasil, realidade e esperança”, durante o Slobraz Talk.
Respeitado tanto no Brasil quanto no exterior, Ricupero é jurista, diplomata de carreira, professor e escritor. Foi embaixador em Washington, Roma e Genebra; secretário-geral da UNCTAD e subsecretário-geral da ONU; presidente na GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio); ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal (1993-94) e ministro da Fazenda (1994), cujo papel foi primordial para o sucesso do Plano Real, que embasou o período de estabilidade que vivemos até pouco tempo. Atualmente, é diretor da FAAP; presidente honorário da Japan House e a partir de janeiro será o titular da Cátedra José Bonifácio do Centro Ibero-Americano da Universidade de São Paulo (USP).
A abertura do evento foi feita pelo presidente da Slobraz, Matjaž Cokan, que anunciou o tema, desejando ouvir muito mais sobre esperança, uma vez que a realidade todos conhecem. Ricupero concordou que seria melhor se fixar na palavra esperança, atribuindo a ela o significado de “confiança de que o futuro será melhor”. Para o embaixador, essa confiança é o que nos move e, embora o momento que vivemos no Brasil seja desanimador — economia estagnada, aceleração da inflação, agravamento dos problemas sociais, desemprego —, criado ou agravado pela pandemia, não deve ser pensado também como o nosso futuro. Segundo ele, não devemos olhar a fotografia do presente e achar que será assim no futuro. Temos que nos concentrar no filme, na direção que estamos indo.
Essa aliás é sua preocupação, mostrar aos jovens, por meio de razões fundamentadas, que o futuro do Brasil será melhor do que o seu presente. O trabalho que desenvolverá na Cátedra José Bonifácio da USP seguirá esse propósito, pois envolverá uma reflexão sobre os 200 anos do Brasil como país independente, a ser celebrado em 7 de setembro do próximo ano. Para tanto, ele busca responder duas perguntas: “o que foi feito nesses 200 anos?” e “o que falta ser feito?”, ou seja, engloba um balanço e um desafio.
Seguindo o pensamento do historiador francês, Fernand Braudel, Ricupero acrescentou que é preciso fazer uma diferenciação entre os acontecimentos do momento e as grandes tendências que movem a história. A pandemia, exemplificou ele, vai passar, a questão climática, não. É uma tendência que deve ser considerada, pois se nada for feito, tende a se agravar. O embaixador enumerou outras tendências ou forças estruturais, nas quais o Brasil apresenta vantagens e acrescentou: “O que é desfavorável não são as forças estruturais, é a conjuntura política e econômica, mas com a escolha certa, nós podemos aproveitar tais forças”.
O encontro teve a moderação do presidente emérito da Slobraz, Štefan Bogdan Barenboim Šalej, que após a explanação de Ricupero, organizou a discussão com perguntas de vários participantes sobre investimentos, infraestrutura, tecnologia, entre outros assuntos.
O embaixador salientou a importância de não nos prendermos ao presente para pensarmos o futuro do Brasil. De acordo com ele, “Não há nenhum determinismo que torne obrigatório que o futuro do Brasil vai ser melhor do que o presente ou do que o passado. Ele vai depender da ação humana e essa ação humana depende da maneira como nos comportarmos nos próximos anos, a começar com o ano que vem, que é um ano eleitoral”.
Nosso agradecimento especial ao embaixador Rubens Ricupero, aos participantes e ao moderador do encontro Štefan Bogdan Barenboim Šalej. Aproveitamos para agradecer também o apoio da Slovenian Global Business Network e o patrocínio da SPIRIT Slovenia, do Ministério do Desenvolvimento Econômico e Tecnologia da Eslovênia e da Embaixada da Eslovênia em Brasília.
Assista ao vídeo com o evento na íntegra em nosso canal do YouTube.
